quinta-feira, 2 de junho de 2011

O CORAÇÃO DAS MÃOS

O galo manda a razão e acerta o dia no labor. Quando primeiro canta, melhor será ires com ele ver o dia antes que o sol te leve a terra e a seiva. Quando por último grito se cala, vai para casa fazer noite que o sempre agradece. O tempo está morto ou caminha para isso.
Mãos de calo, que começam por bolhas que nos roubam a carne da mão dando-lhe em troca o calo do qual um homem não se deve orgulhar mas a terra é dura e a vaidade (e esta é tão importante como qualquer outra) de ver as coisas crescerem, a medrar na sua ordem faz-nos mais moles nesse calo porque a terra é dura, não por a dureza anacrónica do seu suor mas porque se lhe tem que levar seu feitiço.
A criação tem suas regras, magia e encantamentos que meus avós sabiam como eu sei nos últimos dias (tento entrar "desesperadamente" ver o correio sem resultados" que a terra assim o era muita dedicação e poucas certezas. A natureza é soberana nesse reino e o absurdo não é diferente da civilização do desktop. Meus Avós recebem a sua paz no topo e no fundo das colinas onde a "namoraram" ambos ainda estão como por magia no meio da terra rindo-se com indiferença da que pagamos no fim. Um dia pedi a meu pai, e fui eu que lhe pedi não por castigo mas por pensar que seria o último caminho para as minhas crenças que me ensina-se alguma coisa sobre a terra. Colhi um corpo desajeitado ás sachadelas no caos do esforço sem nexo por falta de saber e de o saber, o labor mas vi a alegria de algo plantado por mim. Quando regresso à terra no topo da estrada que esventrou a serra roubando magia ao bardo trazendo as suas histórias de velocidade e progresso todas as vezes me bate a placa castanha gigante da auto-estrada assinada por Miguel Torga - "Reino Maravilhoso" e fico preocupado com o "céu" que se está a ir embora. Outros "céus" eu sei, não terá grande importância "economista" esse labor e arte do mundo antigo nem o faço com ponta de revivalismo porque nunca o fui um homem da terra mas por compreender que a parte do património que o guiou na sobrevivência se perde por essa economia que não respeita os campos, os rios e os céus e isso não o aprendi com eles mas sei que é sagrado depois acontece-nos como aqueles animais que acabam em extinção...imaginamos documentários na televisão.

"É homem, tem 63 anos e a quarta classe. Este é o retrato-tipo do agricultor português, o que torna Portugal no país europeu com agricultores mais velhos e com menor número de jovens a trabalhar nos campos: apenas 2,5 por cento têm menos de 35 anos." in
Lusa.

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